
Na minha família temos um ritual relacionado com os passeios de fim-de-semana: a cada segunda-feira, após o jantar, um elemento retira de um frasco, um papelinho com um destino de passeio para o domingo seguinte. Durante o passeio, tiramos fotografias e recolhemos materiais que, durante a semana seguinte vamos organizando numa página de um scrapbook de passeios. Esta dinâmica permite dilatar a vivência de um simples passeio de 3 horas, numa experiência de quase 2 semanas – entre a expectativa de sabermos quem irá escolher o papelinho colorido dessa vez e qual o destino que será sorteado até à satisfação de contemplarmos a página com as fotos e materiais completa. Neste exemplo simples, percebemos a magia que os rituais nos trazem – a capacidade de tornar um momento comum em algo de único, precioso e específico de uma família ou grupo de pessoas. Falo muitas vezes da importância das rotinas familiares, sobretudo para as crianças mais pequenas, pois é através da previsibilidade e segurança que estas transmitem que a criança vai ganhando um progressivo sentimento de controlo sobre o mundo e a confiança necessária para o explorar. São também extremamente importantes porque, ao tornarem automática a organização das tarefas familiares, libertam-nos de termos de pensar activamente no que necessitamos fazer em determinados momentos (a decision fatigue de que tanto se tem falado). O rituais, por seu lado, não deixam de ser rotinas específicas da família, mas têm uma componente emocional tradicionalmente mais marcada. Tornando-se símbolos por excelência da identidade familiar, contribuindo para aumentar o sentimento de pertença dos elementos ao grupo e sendo um veículo de transmissão da cultura e valores familiares, muitas vezes, através das gerações. Podemos categorizar as rotinas e rituais de acordo com as funções que servem na dinâmica familiar: