Ser Pai é ser Humano!

Ser Pai e ser humano Carla Pacheco Psicologia Clínica Blogue

Tenho uma grande amiga que está grávida pela primeira vez e, como qualquer pessoa prestes a tornar-se mãe ou pai, está a ser bombardeada com as habituais recomendações bem intencionadas, como por exemplo: “dorme tudo agora que depois já só dormes daqui a 18 anos” ou o “aproveitem agora para desfrutarem enquanto casal porque depois…nunca mais!” ou mesmo “diz adeus ao teu corpo” ou “diz adeus à tua memória”.

Parei um pouco para pensar nestas recomendações e, analisando friamente, consigo perceber que qualquer casal possa ficar aterrorizado com a perspectiva do pós-parto. No entanto, não nos é permitido sentir-nos aterrorizados perante este cenário porque, na realidade, a parentalidade é a maior felicidade a que podemos almejar na vida (ou pelo menos, assim nos é transmitido pelas mesmas recomendações bem intencionadas) o que acaba por deixar o casal numa angústia ambivalente muito grande e que, muitas das vezes nem sequer é partilhado entre si.

Com a chegada do bebé há uma passagem de todas estas incertezas para uma realidade concreta que é vivida de formas tão distintas como famílias existem no mundo. Para uns, é o momento mais maravilhoso de toda a sua existência, o dia em que tudo faz sentido. Para outros, é um momento tão diferente daquilo que imaginavam que acabam por se sentir defraudados na sua expectativa. E entre estes dois pólos, existe uma miríade de possibilidades como o alívio, a decepção, a dúvida, a exaustão, a revolta, o medo, a alegria, a dúvida e, até mesmo a indiferença. E aqui, como em toda a experiência humana, todos os sentimentos são válidos. Todos os sentimentos têm uma razão de ser e são perfeitamente naturais. No entanto, e uma vez mais, é muito difícil para uma mãe ou pai, expressar os sentimentos que considera negativos porque não vão de encontro àquilo que sente que é esperado de si e, para além do mais, já se encontra perfeitamente informado/a que a gestação foi o período de luto da sua identidade anterior e que agora é-lhe exigido que assuma o papel de cuidador.

O bebé torna-se elemento central da vida familiar, papel que é totalmente indispensável para garantir o seu desenvolvimento harmonioso e a satisfação das suas necessidades. Aqui, convém não esquecermos a diferença entre central e exclusivo. O bebé necessita de cuidados constantes, amor e atenção mas não é sua intenção ou função tiranizar ou monopolizar toda a existência dos pais.  Quando o bebé não faz uma boa pega da mama, importa termos em atenção que, para além das técnicas de posicionamento do bebé para permitir uma boa sucção ou da aquisição de uma boa almofada de amamentação, há uma mãe que, dependendo do seu estado emocional, pode estar a travar uma batalha muito dura pelo seu próprio valor e capacidade de cuidar adequadamente do seu bebé e que é fundamental perceber como se sente e apoiá-la. Quando um bebé não consegue dormir toda a noite porque tem cólicas, é fundamental massajar e aplicar almofadas mornas, mas também perceber que os seus pais são pessoas em séria privação de sono e provavelmente extremamente angustiadas e a sentirem que estão a falhar na sua função parental.

Não existe uma fórmula mágica para a parentalidade, tal como não existe uma fórmula mágica para seja que situação for, à excepção talvez, do compreendermos que todos os caminhos são diferentes e todas as vivências são válidas. A forma como um casal abraça esta fabulosa aventura que é a parentalidade vai depender muito de si e do seu bebé e é nessa troca que se vão apaixonar e conhecer, momento a momento, regulando-se mutuamente. Tornarmo-nos pais não pode implicar jamais despirmo-nos de nós próprios, pois estaremos a caminhar no caminho da doença e a impedir que os nossos filhos nos conheçam e nos amem por quem somos – com as nossas forças e fraquezas que nos tornam únicos.

Pelo contrário, tornar-nos pais, implica que façamos um esforço extra para estarmos conscientes das nossas necessidades e limites e cuidar de nós com muito carinho, para podermos dar o nosso melhor, pois só podemos dar aquilo que temos.